Quando vi esta foto não pensei duas vezes e logo a tomei para mim. Eles nem sabem disso. Não sei nem se lembram da foto. Mas não me contive. Vi estes seres livres, apaixonados, alegres e companheiros usando roupas praticamente iguais, naturalmente sensuais, e me apaixonei pelo casal.
Quem diria que meus pais eram assim? Eu não parava de me perguntar. Fiquei absolutamente comovida. Quantos sonhos de vida atravessam o ar desta fotografia! Quanta leveza e gozo!
Confesso que senti uma espécie de culpa por ter nascido e mudado a vida deles para sempre; sendo a primeira filha que os levou às beiras dos abismos existenciais onde os romances ficam por um fio. Dois anos depois mais uma filha. E no ano seguinte, outra filha.
Estou segura de que se temos algo em comum entre as três irmãs hoje é a personalidade forte-livre-indomável e a absoluta reverência à dedicação ininterrupta de nossa mãe e pai por nós.
Eu gostaria que elas tivessem jantado com a gente, em nossa noite pelos nossos pais-namorados. E tivéssemos ouvido juntas a história de amor que começou numa pista gaúcha de atletismo num 1 de maio. No 24 era niver dele e ela roubou a cena e apareceu na festa de surpresa com o bolo. No 29, ele deu o troco e fez o mesmo por ela. Seis meses depois decidiram se casar, antes que ele fosse trabalhar no Rio de Janeiro.
E mesmo que na época de juventude ela gostasse de caipirinha e ele de whisky, no baile das pistas e da vida seguiram os mesmos passos. Sempre arrasaram dançando juntos. Nunca vi outro casal dançar igual. Mas até hoje, aos 45 anos de casamento, é um mistério como fazem a coreografia diária do relacionamento seguir viva e forte apesar de todos os desafios.
Quando a netinha Laila pediu a eles que se beijassem durante o jantar, eu pude contemplar o casal da foto, mesmo que por um só instante. E me dei conta que eu os escolhi para encarnar nesta terra, sim. E que a maneira de agradecer a vida que eles me deram é ser um canal do amor que segue transbordando através deles em mim.
Texto de Fernanda Franceschetto