
Um lugar é sagrado quando tem o poder imediato de me lançar às memórias mais íntimas da vida.
Hoje o templo verde me fez honrar a potência da autotransformação a qual venho me dedicando.
Me fez lembrar da andarilha Fernanda, entregue a seu grande mestre, Silêncio, desde que terminou o primeiro casamento: o conto de fadas que a levou ao fim da ilusão mundana que a seduzia.
O sexo era uma delícia. Mas não transcendia. Disfarçava o vazio existencial.
Era mais luxúria e prática hedonista: reféns dos melhores lugares, das viagens mais incríveis, dos vinhos mais caros, das lojas mais chiques, da ostentação mais brilhante.
Se houvéssemos nos entregado (juntos) ao aprendizado da presença no aqui e agora, da simplicidade, das artes, da literatura e filosofia que também nos unia, talvez pudéssemos ter escutado o chamado pela evolução e profundidade de nossa relação e sofrido menos desde nossos egos- paixões-ignorâncias-obsessões.
Olhei a montanha, agradeci ao homem que foi príncipe para tornar-se parteiro de minha morte.
Depois do intenso e longo período de desconstrução, de práticas silenciosas, meditativas, psicoterapêuticas, corporais e também celibatárias, a montanha me fez lembrar também do único homem que lhe apresentei.
Apareceu então, a mística Fernanda, aspirante à unio mystica, à entrega da unidade à totalidade, do matrimônio espiritual interno e externo, da plena integração do feminino com o masculino; nua em êxtase, fazendo amor aos pés da montanha, como incarnação da deusa sexual.
Sempre profundamente penetrada, até quando grávida, seguindo os rituais com seu deus-companheiro.
E eis que a relação íntima transcendente acabou por despertar sombras insustentáveis na realidade imediata, prática.
Caí do Paraíso e precisei buscar novas rotas de autoconhecimento, trabalho interior, cura e ampliação da consciência.
Olhei a montanha e agradeci ao fruto da união máxima vivida, Laila, brincando comigo aos pés do templo verde.
E pensei sobre o autêntico legado que tenho a lhe oferecer: a coragem de viver radicalmente a própria existência, ser uma obra de arte viva, auto criação livre, aberta, amorosa e selvagem.
Autora: Fernanda Franceschetto
Vulvoscipia FF – A jornada íntima para tornar-se mulher sem tabu