
Estes dias ouvi de um homem que o sexo com alguém podia ser bastante solitário. Por um momento me surpreendi. Pois fazia tempo que não ouvia isso de uma voz masculina, com nuances de tristeza e tédio ao relatar sua vivência. Logo depois me lembrei das várias vozes femininas que me disseram a mesma coisa. E de minhas próprias lembranças quando me senti assim.
O que nos leva a sensação de solidão em pleno ato sexual é a falta de conexão com a outra pessoa. E isso pode ocorrer (como todos sabemos e já experimentamos) tanto com casais de mais tempo quanto numa única transa ou no sexo sem vínculos afetivos.
Para transformar o estado solitário em que nos vemos mais numa prática masturbatória através do corpo do outro/a do que num encontro sexual, é essencial ativar o estado de presença no momento presente e olhar nos olhos da outra pessoa.
E isso ainda é um tabu pra muita gente: tanto ficar mais conectado no aqui e agora com a realidade imediata com o outro/a (e não na fantasia egoista) quanto olhar nos olhos durante a transa.
A mente está tão condicionada a repetir um padrão sexual (influenciado também pela pornografia) que a pessoa não consegue se dar conta do outro/a ali, mesmo em total penetração. Além de existir uma espécie de medo de experimentar a intimidade profunda ao mostrar-se vulnerável e totalmente aberto/a.
O caminho para uma sexualidade mais consciente e menos solitária é tão desafiador quanto libertador. Pois começa dentro de si. Do trabalho interior consigo mesmo/a.
E quanto maior a entrega para conhecer a si mesmo/a e estar cada vez mais presente e lúcido/a para os próprios sentimentos, assim estará para o outro/a. Então não haverá temor nem risco de solidão pois a pessoa encontrou a si mesma e não tem medo de olhar a outra e buscar a conexão necessária para fazer do sexo um encontro, uma experiência para amar e ser amado/a.
Texto de Fernanda Franceschetto
Vulvoscopia FF: A jornada íntima sem tabu