
Na foto, Fernanda nos braços de um pai que não atuou desde o machismo do patriarcado. Fui a primeira filha. A desbravadora. A que fez todos os caminhos opostos aos dele. A que criou e segue criando revoluções de mente, corpo e alma, esteja onde estiver. A filha libertária, comunicativa, transgressora, espiritual, bela, vaidosa, intelectual, poeta, fêmea em todos os graus. Deve ter sido insuportável ser meu pai em diversos momentos.
Não fosse das maiores aptidões do Mário sustentar todo tipo de desafio com o máximo de presença e neutralidade, eu não teria me tornado a mulher livre que sou. Faz poucos anos que tomei consciência dos inúmeros esforços de meu pai para que eu pudesse existir no mundo sendo exatamente quem sou, em todas as fases de minha vida. Como pai, jamais me castrou, reprimiu, controlou ou subestimou. Pelo contrário, mesmo em ideias e ações muito transgressoras encontrava sua maneira de aceitar.
Perante os desafios e dores que eu vivia, era quase sempre escuta ativa e silêncio acolhedor. Assim me devolvia para dentro de mim uma e outra vez, sem me dar respostas prontas nem dizer que caminho tomar. Era como me dar o troco da liberdade que eu pregava, me fazendo ser absolutamente livre para escolher o rumo e ser responsável por isso. Frio na barriga maior que esse não há. Assim, aprendi que liberdade é responsabilidade. E que ser corajosa não é negar o medo, mas seguir em frente mesmo sentindo medo.
Sai de casa aos 18 anos e fiquei longe do convívio diário por mais 18, período em que vivi incríveis metamorfoses como ser humano, mulher e profissional; e que meu pai me via mais pela tv do que na vida real. As despedidas desta época seguem vivas em mim. Pois era quando eu sentia o abraço mais seguro do mundo e chorava em seu peito antes de respirar fundo e seguir para a próxima batalha no mundo patriarcal. Há 7 anos estamos mais próximos fisicamente. E tenho tido a oportunidade de conhecer novamente meu pai e o Mário. E admirar profundamente o avô afetuoso e brincalhão que ele se torna.
Confesso que tenho invocado muito mais coragem nesta pandemia para atravessar o medo de perdê-lo. Não estou nada preparada para isso, apesar de toda fé e filosofia ativa que há em mim. Preciso conviver mais com ele, curar alguns aspectos de nossa relação e seguir aprendendo a honrar sua sabedoria misteriosa, sendo absolutamente grata por tudo que ele fez e faz por mim. Pai, amo teu SER íntegro, honesto, generoso, sensível e tua nobre retidão de caráter. Te amo! Obrigada eternamente pela vida!!!
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Feliz simbólico dias dos pais a todos que me acompanham por aqui! Que possam honrar suas paternidades com muita consciência e presença de amor e humildade para evoluírem a cada dia na relação com seus filhos e filhas!
Texto de Fernanda Franceschetto
Vulvoscopia FF: A jornada íntima sem tabu
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