Muitas vezes em minha vida precisei de acolhimento, de ternura, de uma coxa para deitar a cabeça e ser acariciada, de chorar sem vergonha e profundamente; de ser apoiada pelo outro em plena abertura, segurança, silêncio e serenidade.

As raras vezes que pude fazer isto e ser tratada desta maneira me levaram a transformar a potência de minha sexualidade para um outro nível: a autêntica intimidade.

Na época eu não entendia que minha necessidade neurótica de mostrar-me forte e autossuficiente perante toda crise, me afastavam do que minha alma mais precisava: ser eu mesma nos momentos de dor, fraqueza e vulnerabilidade. Deixar cair as máscaras de mulher fodástica e abrir-me à partilha de minhas sombras. Isso era um verdadeiro tabu para a ideia de perfeição feminina que eu carregava, culturalmente enraizada em minhas entranhas.

O trabalho mais duro e transformador em um relacionamento é permitir que o outro veja profundamente a sua dor. E confiar que essa pessoa pode te acolher por inteira e fazer a travessia junto contigo ao amor.

A dor nos conecta profundamente. Não devemos temê-la, pelo contrário. Precisamos lidar com o mundo interno que resistimos em conhecer e curar nossos traumas e feridas. Precisamos sair do estado de pensamento mágico-infantil que só é bom um relacionamento quanto estamos sentindo prazer.

É através do enfrentamento e da travessia das dificuldades que um casal se fortalece e cresce. Mas é também óbvio que a evolução depende da busca e cultivo constante dos dons e virtudes de cada um para fazer florescer uma relação de interdependência (e não co-dependência).

Sim, transar é fácil. Radical é se relacionar através da experiência da nudez total, ser quem se é na vertiginosa e extasiante intimidade.

Autora: Fernanda Franceschetto .⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Terapeuta Gestalt, Tântrica, Comunicadora, Jornalista, Atriz, Mística, Mãe, Fêmea.

Vulvoscopia FF: A jornada íntima sem tabu

Foto: @bensasso

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