Em tempos tão caóticos, virtuais e ansiosos, é uma escolha resistir e decidir ser humana: guardar o telefone, postergar os próprios interesses, parar, olhar nos olhos e escutar alguém.

Hoje uma mulher compartilhou sua angústia em ser amante de um homem casado há 12 anos, enquanto nossas filhas ao longe, brincavam juntas no parquinho.

Cada vez mais, encontro pessoas que se abrem completamente para mim.

Sinto que o estado de presença, serenidade e natural acolhida favorecem o contato mais honesto e profundo ( além das máscaras, dos personagens sociais e das “ boa educação” ).

Mas creio estar na atenção, na escuta ativa ao outro, o fator principal que aciona as confissões alheias.

Ela contou que após a primeira noite que não houve transa entre eles, pois estava menstruada e não queria, aconteceu uma intimidade diferente.

Ela tocou seu corpo com massagens profundas e carinhosas e apenas dormiram juntos, sem nada de sexo.

Depois de um tempo, ele acordou chorando muito. Ela se assustou. Jamais em 3 anos o vira assim. “ Um homem forte e poderoso, não chora né? Será que está com depressão? O que tu achas que aconteceu?”

Eu acho que ele se entregou realmente à massagem e sentiu o corpo dele e o vínculo contigo, através dos teus toques: o que está guardando dentro dele de angústias, ressentimentos, pressões, medos e tristezas podem ter vindo à tona. Quando tocamos o corpo de alguém com afeto e qualidade de presença, favorecemos o contato com o seu universo interior e com os sentimentos profundos, geralmente bloqueados. “ que bom que estou podendo desabafar. Todo mundo precisa disso, né? Ser ouvido”.

E pensei o quanto de dores, equívocos e feridas acontecem pelo fato das pessoas não buscarem ajuda e começarem um trabalho interior para refletirem sobre a vida, escolhas, pensamentos, sentimentos e atitudes.

E também lembrei de homens que vi chorar profundamente, e o quanto foi importante poder acolhê-los em meus braços, plena em amor e respeito, testemunhando o menino interior ferido que habitava cada um deles. Somos todos vítimas de um mesmo sistema patriarcal, hipócrita e falido.

Precisamos nos ajudar, uns aos outros, além das críticas, dos julgamentos, dos gêneros e das opiniões do dia a dia.

Em compaixão pela dor que cada um vive, recuperar nossa humanidade.

E quem sabe, a alegria e o prazer de vivermos mais autênticos e inteiros – sem provocar danos alheios – em nossos corações e intimidade.

Autora: Fernanda Franceschetto
Vulvoscopia FF: A jornada íntima para tornar-se mulher sem tabu

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